Em texto anterior, falei que sobre o fim da arte como categoria histórica, pelo menos como a conhecíamos. Mas nos tempos modernos, aonde todos podem ser “artistas”, é a forma, o como fazer, que diferencia um artista dos outros mortais, talvez a verdadeira arte moderna. O estilo é, fazer algo, alguma coisa de forma ou jeito especial. O estilo é a construção de um modo de se conduzir próprio, que não precisa de conteúdo significante.
Desta forma um animal pode ter estilo, porque boa parte da raça humana não tem conteúdo significante. Assim, os gatos costumam ter muito mais estilo que a maior parte dos humanos. Agir de forma singular é a base do estilo, é claro nem toda a singularidade tem estilo. Ser singular apenas, não faz uma pessoa ter estilo, mas agir de forma singular consistentemente, é à base do estilo.
Como o estilo pode ser racional ou não, instintivo ou não, todos os seres podem ter estilo. Até os loucos. Mas ter estilo, viver com estilo, com conteúdo e forma, é um passo adiante, talvez seja a nova forma de arte. Não apenas agir com estilo, mas ter estilo no que faz, e qualidade do que faz. É o estilo em dobro, forma e conteúdo.
Assim, podemos perceber estilo apenas nos movimentos de uma pessoa, o fazer já a determina, ela já faz arte, mas o verdadeiro artista é aquele que sabe se mover, mas também sabe para onde está se movendo. Além de ser, ele sabe, e sabe que é, ou seja, o verdadeiro artista tem consciência de ter estilo, e o utiliza-o para expressar um conteúdo significante.
Uma mulher sensual tem estilo, com consciência de tal fato, é uma artista, mas quem sabe além, é usar o que sabe para fazer um conteúdo, é genial. O estilo é a marca da genialidade, um ser singular que se diferenciou por diversas formas das outras pessoas. Mas existem pessoas que tem estilo, mas quando o usam com consciência, perdem o mesmo, é a caricatura, o canastrão, o esteriótipo. Em suma, perdem a naturalidade quando a racionalizam, não evoluem quando tentam dar conteúdo significativo ao estilo, e em nome deste objetivo perdem o estilo de forma. Portanto, se perdem por completo.
O mundo atual vive em torno da moda, do modismo, nada mais que um estilo fabricado, mas quem tem estilo, não é vanguarda de modismo, mas pode ser copiado. É antes de tudo, um ser humano que se completou, tornou-se uma figura única, pode ser só na forma, sem conteúdo, pode ser nos dois. Mas conteúdo sem forma é a arte do passado. No mundo moderno, a forma, o fazer, o agir é o estilo, pode ser desde beber água no gargalo de uma garrafa, até ser solista de uma orquestra, o estilo não está ligado, necessariamente, a uma complexidade ou ao domínio de uma técnica.
Ter estilo é fazer algo simples, de forma que a mesma seja notada. Ter estilo é ser notado, mas ser notado, não é aparecer, ser conhecido. Pode ser, que alguém com estilo seja notório, mas a notoriedade não faz alguém ter estilo. As centenas de celebridades sem estilo são a prova viva. Dá mesma forma existem modelos com estilo, e modelos da moda. Como poucos são capazes de identificar quem tem estilo, dos que apenas estão na moda. O estilo passa muitas vezes desapercebido.
Por sinal, as carreiras com maior necessidade de estilo, são as mais notórias no mundo moderno, modelos, atores, políticos e tantos outros performáticos da aparência, precisam de estilo, fabricados ou não. Por que ter estilo, também é bom senso, bom gosto, equilíbrio diante da situação, saber e controlar o tempo. Não é possível esperar um estilo de conteúdo num modelo de 14 anos, mas podemos ter certeza que o estilo da forma, neste caso, está ligado à aparência física, é certo que a grande maioria serão apenas marionetes pré-fabricadas, a moda, ou estilo artificial.
Determinadas atitudes, tomadas por pessoas diferentes, uma pode ter estilo, já na outra, ser mero reflexo da moda. Ter estilo não é ser cool, mas saber agir conforme a ocasião, ter feeling, para distinguir quando e aonde, eu posso fazer determinado ato, e a forma de fazê-lo, saber a dose certa, quase por instinto, porque aquilo é natural para você, ter estilo é ser natural, agir como você em qualquer ocasião, quem tem estilo, conhece o mundo, no entanto, age como se ele não estivesse ali. Ser natural é ser você, ser o que sua personalidade é, e não representar algo distante, ter estilo, é ser seu próprio personagem, sabendo seus limites e agindo conforme eles, a despeito da situação.
Ignorar o mundo com o estilo, não é ser anti-social, mas agir de tal forma, que o mundo em sua volta se molde a sua vontade ou o deixe agir, percebendo em você uma naturalidade para a transgressão, a quebra de limites, enfim, ser você, sem invadir o espaço alheio ou fazê-lo com uma permissão tácita do meio social.
No mundo atual, ter estilo, muitas vezes é confundido com a sedução, seduzir pode ser uma arte, mas quem tem estilo vai além da sedução, porque sabe que esta forma de agir é infantil, crianças não têm estilo, ao contrário dos animais. A sedução com estilo, tem que haver a entrega final, ou seja, ter coragem para apagar o incêndio que você iniciou. Também é saber ser solitário, multidões não tem estilo, o estilo é elite, e elitista, por sua própria natureza, porém, não é fútil, nem esnobe.
Não somos alegres ou tristes, mesmo porque, antes de tudo não somos estúpidos, ser alegre, ou aparentar alegria de modo contínuo é sinônimo de vazio na forma e no conteúdo. Mas quem tem estilo, sabe rir de si mesmo, sabe brincar com outros e a vida, contudo, sabe quando tem que entrar em guerra com o mundo.
Eu