Prólogo

Gostaria de explicar, ao menos entender porque comecei a escrever poesia ou algo do gênero, e como tudo começou. Minhas lembranças me levam, antes mesmo de minha adolescência, independente da minha vontade, parece ser tudo coisa da estupidez do momento ou obra do acaso. Como explicar a vida ou uma existência?

Também não se trata de um dom, escrever como faço é mais um tipo de compulsão, esta aqui é a minha. Assim, convido o leitor a tentar entender minha viagem de vida, meus pensamentos, delírios e outras loucuras próprias. O que procurava? Nem sei, mas não consigo viver sem pensar, sentir sem registrar tudo em algum lugar, o transcrito aqui é o transbordar da minha individualidade, além do suportável por ela.

Se é possível definir o que faço, o leitor verá como o lirismo, o romantismo, o niilismo e a inocência perdida se fundiram de tal forma, tornando um ser perdido e apartado do momento. Minha energia se foi, e o Universo que a tenha em bom lugar. Decidi que esse momento era o propício para iniciar este projeto, não me perguntem porque, não tenho esta resposta no momento.

Os textos postados aqui são de minha autoria , não estão em ordem cronológica, mas conforme os postarei aqui. Sempre assinei meus textos com o pseudônimo "EU". Nem tudo será poesia, nem tudo será coerente ou sábio. Afinal, posso ser tudo, menos sábio...

EU

sexta-feira, 30 de março de 2007

O Fim da Arte


"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente"
Fernando Pessoa


Não faltam textos atuais descrevendo o fim da Arte, e que sua função histórica deixou de ter sentido. Sem dúvida, em todos os lugares existem mostras de que a manifestação artística se afastou das bases sociais de sua gênese. Se entendermos a Arte, em sua forma mais primária, como manifestação singular de uma dada cultura, historicamente localizada. Sendo elemento de integração, explicação ou mesmo lúdico, necessários ao convívio social. Um ente agregador, quase um reflexo das condições da vida humana, sua existência, bem como, a superação mágica dos obstáculos reais. Tínhamos uma arte engajada, como parte indissociável do mundo que a produzia. De tal forma que não poderíamos entender um momento histórico, sem termos a noção das manifestações artísticas. E muitas vezes, só existia a possibilidade de estudar um determinado período da história, através dos legados deixados pelos artistas da época.

Podemos entender o descrito, como uma relação simbiótica entre a arte e a cultura de uma sociedade, arte era cultura. O desenvolvimento social, a cultura e a arte andavam juntos, como a sociedade da Antiga Grécia nos demonstra de forma lapidar. Podíamos mesmo, medir o grau de desenvolvimento destas categorias, estudando cada uma delas isoladamente.

Porém, algo ocorreu no decorrer de nossa história, em algum ponto a dissociação entre cultura, sociedade e arte se efetivou. O ensaio aqui não está voltando para determinar esse momento, mais, sobretudo entender ou tentar entender se a Arte como conhecíamos se perdeu, ou se a própria manifestação artística deixou de ter um significado social, ou mesmo, a perda do paralelo com próprio processo cultural. O que é hoje uma obra artística? Um artista? Qual é o papel deles no mundo moderno?

O conceito

Do ponto de vista terminológico, o conceito arte é antes de tudo um domínio de uma técnica para expressar um conteúdo, unindo-os de tal forma que ambos eram a expressão de uma vanguarda social, fazendo com que novas barreiras fossem rompidas. Sendo a gênese de novos horizontes e visões de mundo. Porém, a certa altura, a arte deixou de ser a vanguarda da técnica, de como fazer algo da melhor forma, o termo atual é tecnologia. A tecnologia tomou da arte a vanguarda da forma de produzir, a arte do fazer técnico, sem se preocupar com o conteúdo da produção. Não se procurava mais um produto único, cujo o conteúdo o diferenciaria dos demais.

O Artesão, um misto de artista e técnico, foi substituído pelo Operário e o Inventor/Cientista. A partir deste ponto, nunca mais a arte seria a mesma. O principal processo criador da sociedade humana passou para a tecnologia, impulsionado pelo capital a serviço do lucro. A Arte perde assim seu primeiro papel histórico. Outro ponto de ruptura, foi a perda com controle das fases da produção de sua obra por parte do artista/artesão, algo cada vez mais distante da arte atual, cada vez mais dependente de múltiplos processos e objetos, toda uma infra-estrutura.

O artista ainda teria que dominar uma técnica, mas, agora, ficava a serviço de sua criação ou da reprodução de sua criação. O autor e o interprete ora sendo uma única pessoa, ora sendo pessoas distintas, ainda eram os “verdadeiros” artistas. Porém, uma vez apartada a arte, da produção, o artista teria que sobreviver da venda de suas obras, não mais entendidas como um produto socialmente necessário para a sobrevivência da sociedade, mas como algo a ser admirado pela excelência de seu conteúdo e técnica de execução. A arte passou para um mundo sem utilidade econômica. Assim, surge a figura do Mecenas, aquele que sustenta o artista, para que o mesmo produza suas obras, ora encomendadas ou feitas graças ao sustendo propiciado pelo seu bem feitor.

Esta dicotomia ou dualidade sobrevive até os tempos modernos, como a eterna luta entre o livre pensar, produzir e as necessidades de sobrevivência do chamado artista, fala-se, modernamente, em arte comercial ou feita para se tornar uma mercadoria com preço de venda, capaz de sustentar o autor da obra com seu ofício. Ao contrário de antes, quando a arte era produzida por aqueles que a faziam como deleite, ou mero exercício de seu lazer, após ou durante o trabalho.

A tecnologia como arte

Mas durante o século XX, sobretudo, a tecnologia antes restrita a alguns setores da produção de bens, avança sobre todos os outros setores, de tal forma que as figuras do autor e do interprete começam a sofrer grande erosão. Os recursos audiovisuais, a gravação de som, filmes e as fotos, retiram da arte, o papel de registrar seu tempo, de ser um reflexo íntimo da cultura que lhe deu origem. Em suma, o processo artístico deixa de ter qualquer relevância no processo social, passando agora a uma manifestação sem raízes históricas, mas como veremos a seguir, o avanço da tecnologia ainda produziria mudanças mais radicais, na medida que a tecnologia a serviço da empreitada comercial, descaracterizaria ainda mais a noção da arte.

Além do mais, o avanço da técnica e o desenvolvimento do chamado mercado de obras artísticas, tratados como investimento dado o seu valor como obra única, fez surgir um mercado milionário das falsificações, tornando-se, por vezes, impossível distinguir a obra original de suas cópias, ou mesmo de quadros e outras obras de artes atribuídas a autores, sem que jamais fossem produzidas por eles.

A verdade é que o surgimento e o desenvolvimento de uma série de novas tecnologias, tais como:as áudio visuais, a eletrônica, os computadores, as comunicações, fez com que o artista, não mais necessitasse de uma técnica para realizar seu produto ou facilitou de tal forma aprendizado da técnica, que qualquer um poderia ser “artista”. De certa forma a exposição permanente e diária de qualquer pessoa, faz com que a mesma possa representar sua própria vida em forma de arte. De certo modo vivemos todos num grande palco, aonde qualquer pessoa pode se apropriar das formas de expressão que antes eram acessíveis apenas aos iniciados, ou seja, aos artistas.

A desumanização

A Arte, ou a função social ocupada pela manifestação artística, foi substituída pela diversão, o entretenimento, na verdade o espetáculo. No espetáculo a forma, a técnica se sobrepõe de tal forma ao conteúdo, que a noção de arte se perde. São como os Big Brothers da vida, ou toda a gama espetacular de diversão, aonde nada é feito em função da cultura humana, não existe ética ou questões complexas no espetáculo, ele é feito para “entreter” tão somente. Como os filmes de Hollywood, são antes de tudo grandes empreendimentos técnicos com objetivo de lucro.

É certo que ainda podemos identificar manifestações ou obras artísticas em nosso meio social, mas são a chamada cultura marginal, ou algo para uma elite, um gueto. O que move as massas são os espetáculos. Vivemos num mundo em que o ser, o ter, foram suplantados pelo parecer. Todos podem ser artistas, o discurso, se dissociou das práticas, todos são performáticos, todos agem de maneira diferente na frente das câmeras. A interpretação da vida é algo do cotidiano, ao alcance de cada habitante das novas sociedades tecnológicas. Aonde o desperdício, o aparecer, o consumir, levou a uma total perda de referência de valores. Cultuamos hoje mais objetos tecnológicos, como aparelhos de telefone celular, tvs de plasmas que as grande obras clássicas escritas no decorrer dos séculos. A felicidade pode ser comprada, e a vida feliz pode ser contada, melhor, reescrita para melhor iludir o seu próprio autor.

Todos são artistas

Os meios tecnológicos disponíveis fizeram com que cada habitante do planeta possa contar sua própria versão de vida, sua autobiografia instantânea, sua felicidade, seu mundo perfeito e maravilhoso, todos podem ter seu álbum de fotografias, seu perfil no Orkut, para que todos possam visitar, é claro com milhões de poses possíveis, chegando mesmo ao grotesco, ao escatológico. Como poderia dizer Fernando Pessoa, nestes perfis todos são inteligentes, sensíveis, honestos, autênticos, seres perfeitos. Menos humanos. Podemos fazer nosso próprio show, ainda que, não exista nada de relevante nele, sendo apenas imagens repetidas ao extremo. É a forma vazia, ou o vazio como conteúdo.

Da mesma forma, todos são modelos, artistas, jornalistas, escritores, poetas, nunca o charlatanismo esteve tão em voga, é na verdade uma das facetas da sociedade de voyers que nos tornamos. O espetáculo não é um universo de imagens, conceitos, idéias, mas uma relação social entre telespectadores, ou seja, uma relação social mediada pela mídia. Não é um apêndice do mundo real, mas o palco do irrealismo da sociedade real. De certa forma é a nova arte, ou o fim da arte enquanto conteúdo significante.

EU

segunda-feira, 26 de março de 2007

Elo Perdido

"O homem mente a verdade"


Este pequeno ensaio pode ser visto como uma viagem para entendermos a aventura humana no Universo conhecido, não é de modo nenhum um estudo exaustivo, mas tenta, sobretudo, ser inovador e questionador sobre a caminhada humana através dos tempos.

A existência é um estado captado pela consciência, é um fato: concreto, abstrato, cultural ou natural. É anterior a ética, a moral, a atribuição de valor, principalmente, anterior a própria consciência. Do ponto de vista da existência não importa a vida ou a morte, o positivo ou o negativo, o bem ou o mal. Estes conceitos neste sentido não são opostos, sequer contraditórios, o que se contrapõe à existência é sua ausência, se algo não existe, inexiste. Assim se falarmos sobre algum tema, ele já existe! Chegamos então a existência humana -concreta e natural-. Nesta, a dimensão superior é o tempo linear, ou seja, de que maneira o tempo age sobre a nossa existência ou da consciência de sua existência - aqui tanto faz, ninguém pode falar da existência se não tivermos a consciência de existir -. O tempo, neste caso, produz mudanças físico-mentais no homem e nas estruturas sociais, quer a nível individual, quer a nível coletivo. O grau percepção que cada ser tem de si e do mundo em sua volta(as outras existências), distingue o seu patamar de abstração, evolução, ou seja, o qualifica a transcender a si mesmo.

Através da história humana, o homem sempre buscou justificação para sua existência (aqui o princípio e o fim da vida biológica), para o fato das coisas existirem, tentando dar sentido a algo que é anterior a ele, a por ordem no caos. Está é a primeira necessidade mental do homem. Quase tão forte quanto aquelas ligadas a sua biologia, no entanto, é necessário para sua exteriorização um mínimo de consciência. A civilização, à cultura humana surgem aí. Pensar a existência do ponto de vista da valorização, é uma criação da cultura humana. Atribuir sentido a sua existência é a última etapa da transcendência(da superação), para tal é necessário uma ética, uma maneira de se conduzir não caótica, não natural.

Da necessidade humana de buscar sua origem e a do mundo que o cerca, surgi à revelação, o mundo mágico da mistificação e por último a religião. A mistificação é a primeira utopia humana, a primeira idealização da vida, neste ponto a religião se apropria do sentimento místico, a fé e os cristaliza em uma instituição. Após, a evolução cultural leva o homem à ciência, a observação, a utopia humana mais acabada, assim, a principal diferença entre as duas utopias é o grau de percepção, que cada uma tem da existência. A mistificação serve ao ser que precisa de um envolvimento afetivo com o ato de viver, à ciência aquele que busca um envolvimento racional com o ato de viver.

Na explicação da existência, a ciência é superior, mas não satisfaz a ânsia dos instintos humanos, contudo na medida que um ser evolui no grau de consciência sobre si e o mundo que cerca, tende a não oposição entre as duas utopias. A relação da ciência com a mística foram se modificando, no princípio existe um atrito forte entre ambas, como a conquista científica foi tomando vulto a cada instante, os místicos, as religiões, passaram a tentar cooptar o método científico para suas teorias. Não atentaram, porém, que a diferença entre as duas não está somente no método de estudo(Lógico-dialético), mas sim na maneira como se encara a existência, seu surgimento, sua função.

O papel da ideologia é fundamental para a distinção entre a mística, o senso comum, do discurso científico. O discurso científico é marcado pela explicitação ideológica, ou seja, na medida que a ideologia aparece no discurso como algo a ser estudado, mas o aproxima de seu caráter. Assim, a ciência assume sua ignorância, questionando sempre o conhecimento para ganhar autenticidade, realidade, enquanto nos outros discursos, a autenticidade se faz sobre a negação da dúvida, afirmando uma certeza dogmática.

O método científico aparece com a observação de fenômenos naturais, uma vez descobrindo-se seu mecanismo, suas leis, passava-se a recriação da experiência, o empirismo-lógico. Para crescer em complexidade para entender as relações humanas, com o método concreto dialético. Neste, a dualidade, a contradição, a oposição aparece como partes de uma mesma realidade, como ocorre no ato de existir. Assim, a existência humana não é somente natural, o homem desde seu surgimento agiu sobre a mesma para modificá-la. As formas humanas de criação, em geral, não apresentam similaridade com as da natureza, da mesma maneira o comportamento humano é diverso dos outros animais. Não é o caso de comparações valorativas, mas sim de reais diferenças, o homem não é superior ou inferior é diferente, mais complexo.

A dialética é o método científico mais acabado para entendermos como se dá o ato de existir. Este fato é contraditório em sua origem, para algo existir é preciso por oposição a não existência(!?). Assim, tudo existe! E tudo sempre existiu! Apesar da vida biológica ter surgido em nosso mundo há pouco tempo. Na dialética, os contraditórios se complementam como também se explicam. A condição para a existência biológica é a contradição, o conflito, pode ser para sobreviver ou para o simples prazer, no caso dos homens. As relações humanas se estabelecem em torno de interesses conflitantes entre a necessidade e o livre arbítrio, o poder e a liberdade, etc. . Para haver dominantes, terão que existir dominados, cada categoria gera duas faces.

Chegamos então a valorização. Valorizar é atribuir sentido à existência, a vida. É através de uma escala valorativa que isto se faz, é priorisando determinadas categorias em prol de outras, elegendo determinada maneira de existir como a melhor. Toda vez que agimos em função de princípios valorativos, está buscando dar sentido ao caos humano. A utopia em sentido amplo é o caldo valorativo por excelência, não o bastante, porém, para explicar, justificar ou abarcar todo o complexo valorativo, o perigo reside não na utopia em si, mas em nome dela passarmos a julgar o fato de existir de maneira diferente, a intolerância. Este é o campo da moral, é o desvirtuamento da tentativa de atribuir sentido à vida, em nome do julgamento da própria existência, uma castração ao ato de viver em prol de uma escala valorativa imutável, a temporal e dogmática. Do outro lado existe o campo da ética, atribuindo mais importância ao ato de viver em si mesmo, como bem maior, respeitando as diferenças das utopias e seus relacionamentos, questionando sempre seus valores, suas escalas, a luz da pluralidade e da mutação que o tempo e o espaço exercem sobre a sociedade e o conhecimento humano, como toda categoria dialética. Assim a ética está para a ciência, como a moral para a mística.

O pensamento humano, sua imaginação são o espelho do caos. Somente quando o homem constrói uma cultura, uma produção, age com sentido, se contraponto ao anarquismo biológico. O mundo natural não é caótico, é probabilístico e regido por leis. Se comparado ao mundo cultural é sem sentido, porque sua organização não é realizada a partir de realidades culturais. Este conflito não pode ser analisado por um método lógico, sistemático, mas tem natureza dialética. O método dialético é ético, na medida que busca a totalidade, não só como necessidade científica, mas porque reflete a realidade humana como se apresenta.

Assim, para a teoria marxiana, a História nasce de suas próprias condições, da realidade. Não existe um sistema da história humana, ela é uma construção realizada através de atos. Tem natureza acumulatória, tem sentido e progressividade. São os sucessivos modos de produzir criados pelo homem, formas de organização social, cada qual buscando mais eficiência. Este fato, não é uma lei positivista abstrata, contudo, trata-se de uma constatação empírica de nosso passado. Quase todo método dialético é suscetível às condições históricas, modificando-se conforme sua base real se transforma. Os atos humanos individuais ou coletivos - entes, grupos ou classes sociais - podem não ter uma relação de causa e efeito, ou interagirem necessariamente. Não são sistematizáveis. O homem tem o poder da abstração, da consciência e por isso é um ser que se auto-engana, se idealiza, idealizando o mundo em sua volta.

O caos não é natural, não nasceu da probabilidade, da física, da biologia. O mundo natural jamais foi caótico, anárquico. Sempre obedeceu a leis, a princípios lógicos, sempre foi previsível, medível, quantificável e observável. O caos é um fato cultural humano, nós como seres biológicos conscientes e pensantes, inexplicáveis segundo as leis criadas por nós, para explicar o mundo natural que nos cerca. O aparecimento da fé, de nosso criador, justifica o aparecimento do caos, o verdadeiro, que é caracterizado pelo surgimento da espécie humana.

A gênese de um animal, que não é somente um ser biológico, é o único acontecimento caótico do Universo conhecido, e Deus é a prova de tal fato. Como um ser onipresente, dirigiu e criou o teatro universal, o qual, nossos cientistas cultuam como divindade. O caos humano vai muito além de nossa imaginação, de nossa capacidade cerebral, porque rompe com a relação causa e efeito natural, deixa tão tonta nossa ciência técnica, que vaga em busca da metáfora da caverna de Platão. Assim, um animal biológico virou Deus, um ser sem existir, um ser sem biologia, o corpo humano, foi relegado à morada descartável da cultura.

O homem expulsou a natureza, o mundo natural, a entropia do paraíso. Nunca mais o tempo será o mesmo, nunca mais às estruturas ecológicas serão as mesmas. O homem tornou obsoletos à mutação, à procriação biológica, à adaptação para sobrevivência. O demônio humano com sua cultura destruiu a paz universal, feriu de morte o fatalismo natural. Alguns acham que a natureza, sua entropia, maltratada e prostituída pelo uso de suas próprias leis, por seu filho pródigo, e agora cafetão, que a surra e engana a cada momento, vai um dia se vingar, pode ser, mas nunca ocorreu em seu próprio mundo, aonde a lei é dos mais fortes.

A roleta está viciada, a probabilidade morreu na mão do jogador trapaceiro com seu método caótico cultural, que se modifica, modificando a si próprio, como no jogo entre dois espelhos, a repetir ao infinito uma mesma imagem, ou infinitas imagens. Agora, estamos sós, com nossa criatura, a cultura humana, não pode ser entendida a partir de seu início, mudaram as regras do jogo, com o jogo em andamento, e elas continuam sendo mudadas. O trapaceiro enganou a si próprio com seu jogo. Quando encontra o caminho, pensa estar errado, porque continua pesando no paraíso, sua ordem, sua lógica. Precisamos começar a caminhar para frente, chega de círculos, é preciso coragem para destruir o método lógico empírico. Libertarmo-nos das amarras que nós próprios criamos. Porque nunca estivemos no paraíso.

EU